quarta-feira, 22 de junho de 2011

Conto: O Príncipe, de Raphael Reis

O Príncipe[1]

Conta-se que no país de Argon havia um príncipe de nome Garcia Falcón, o qual fora instruído pelos pressupostos de O Príncipe.
Garcia Falcón, o venerável – assim era chamado pelos seus súditos – gostava tanto da obra supracitada que mandou fazer réplicas de alguns pressupostos contidos no livro e as fixou nos cômodos de seu castelo, em diversas traduções, entre elas, latina, italiana e grega.
Levava tão a sério que sempre acordava com a máxima de como faria para preservar o equilíbrio entre ser amado e temido.
Dentre as singularidades de seu governo, aponto as seguintes: duas vezes ao ano fazia grandes banquetes que satisfaziam tanto os nobres como a plebe. Ao realizar obras públicas para a melhoria da cidade, fazia aos poucos para que os súditos as degustassem e as venerassem por mais tempo.
Sabia que essa atitude nem sempre era suficiente para garantir sua força, a obediência, o poder, a manutenção da ordem. Então, lembrava-se sempre de que o desejável era ser amado e temido ao mesmo tempo, mas como isso era improvável, deveria escolher ser temido.
O amor é algo efêmero, como já dizia Machiavelli, e pode mudar conforme as circunstâncias. O temor não; ele se torna desejável a um príncipe devido ao medo dos súditos frente às represálias e castigos.
 Para atingir ao intento de ser temido, vez por outra mandava seus soldados realizarem castigos e execuções públicas. Isto, além de ter a intenção de causar temor, era uma forma de ser amado; as pessoas se divertiam com tais espetáculos.
No ano de 1755, o rei de Argon foi cometido de uma doença rara, sem diagnóstico. Os seus sintomas eram visíveis: a pessoa emagrecia, perdia as forças e em questão de dias vinha a falecer.
As alternativas para cura de tal enfermidade eram três, a saber: 1º) ir ao encontro do Papa e lhe pedir que fosse curado; 2º) pedir a cura a um rei taumaturgo; 3º) ou pedir uma feiticeira.
A primeira opção foi logo descartada, pois a submissão ao Papa seria um ato explícito de que a natureza e poder eclesiástico eram maiores do que o político exercido pelo rei. A segunda opção era a mais inviável entre todas. Ir ao encontro de um rei taumaturgo era dizer que este era divino, detinha mais poder, e que ele, como rei, era um fraco. A terceira opção foi a mais plausível, logrou Garcia Falcón, de um ponto de vista prático, embora pudesse lhe causar uma acusação de participação com bruxaria ou de ser um herege, o que o faria perder a legitimidade do poder político e a respectiva exclusão religiosa, traduzida também por uma exclusão social.
Mas assim foi feito. Pediu a um funcionário de confiança que lhe trouxesse a feiticeira mais famosa de seu reino. Ao chegar ao quarto do rei, a feiticeira Diana lhe disse:
– As minhas mãos te curarão e deverás ser grato por isso. Do contrário, aquilo que mais prezas se voltará contra ti.
Após alguns rituais, passando as mãos por todo o corpo do rei, junto a galhos e folhas, proferiu algumas frases em idioma desconhecido e terminou a sessão. Imediatamente, o rei pediu ao funcionário que a retirasse do castelo com a maior discrição possível.
De fato, Falcón estava reabilitado da doença em questão de dias. Porém, ocorreu algo desagradável: a bruxa Diana espalhou que havia curado o rei com práticas de feitiçaria. Tal boato repercutiu tanto que o rei teve que tomar as devidas providências.
Mandou que a executassem em praça pública, apedrejada por difamação e consequente crime de lesa-majestade.
Da sacada do castelo, no momento da execução, os olhos da bruxa encontram os do rei. Esse olhar fez com que o rei se lembrasse da frase da feiticeira de quando ela estava a curá-lo.
Aquela fala não lhe saía da mente. Contudo, tinha algo de mais relevante a se preocupar: seu reino estava prestes a entrar numa importante guerra.
O reino de Nargan era o mais famoso e temido. Ressalto duas informações importantes: o rei de Nargan era conduzido pelo rei Fernando, o maior. Este era amigo de infância de Falcón e os dois reinos tinham um pacto de não invasão e proteção mútua.
Entretanto, a ambição de Falcón em ser o maior e o mais importante de todos os reis levou-o a fazer alianças com outros reis e, por conseguinte, a invadir, sorrateiramente, o reino do amigo.
A vitória foi relativamente fácil, pois conseguiu reunir um exército sete vezes maior que o de Nargan. Apesar da resistência e habilidade dos soldados de Nargan, foram derrotados em três dias.
Ao voltar para seu reino, uma das primeiras ações de Garcia foi reler O Príncipe. Naquela noite, ao passar as folhas depois de molhar as pontas dos dedos, indicador e polegar, releu toda a obra e dormiu satisfeito.
Sua felicidade era óbvia: era o príncipe de Machiavelli, seu reino estava mais que consolidado e unido, seus súditos o amavam e o temiam, a fortuna sempre lhe favorecia, tinha muito poder e a ordem estava estabelecida. Conclusão: era um príncipe que agia com virtù.
No dia seguinte, soldados reais trouxeram perante Garcia Falcón um prisioneiro. Era um homem com seus quarenta anos, chamado Álvaro del Valle, o boticário.
– Alteza. Este senhor estava em praça pública pronunciando impropérios e criticando Vossa Alteza, além de incitar as pessoas a se rebelarem contra o poder monárquico. Podemos executá-lo?
O rei tomou em mãos o cetro, olhou para aquele homem, totalmente vulnerável e disse:
– Ser desprezível! Como ousas questionar minha autoridade e ações. Para que tu digas aos outros de pensamento igual que Sua Majestade é piedosa, não te mandarei para forca, como gostaria. Soldados, retirem-lhe tudo, absolutamente tudo!
A execução foi realizada como o rei mandou. Os soldados destruíram tudo que havia na casa daquele homem. Mataram seus animais e destruíram sua butique.
Era época de festa no reino de Argon. Afinal, era a data de aniversário de Garcia Falcón e todos deveriam prestar suas homenagens ao rei. Grande festa foi dada com suntuosidade, como jamais fora visto em outro tempo ou localidade.
Um dos presentes que mais agradou ao rei foi um livro de capa de couro, manuscrito em italiano toscano, mas com um detalhe: não havia identificação de quem lho enviou. Talvez o cartão tenha se perdido no meio da viagem.
Naquela noite, entregou-se deleitosamente à leitura daquele manuscrito. Seguindo o hábito, molhou as pontas dos dedos, virando as folhas até chegar à última.
Detalhe curioso: o livro possuía, ao final, mais cinco folhas com alguns trechos em destaque, a saber:
1º) A leitura correta sobre O Príncipe requer certa astúcia.
2º) Para bem conhecer a natureza dos povos, é necessário ser príncipe. E para bem conhecer a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo.
3º) Por que Lorenzo de Médici renegou qualquer importância às cartas de Machiavelli?
4º) Machiavelli era republicano e não monarquista como pensa o senso comum.
Estupidez – pensou o rei.
- Machiavelli foi destituído de sua posição de funcionário da República de Florença. Aquelas cartas, além de ensinar aos príncipes como verdadeiramente reinar, eram uma forma de mostrar sua insatisfação com os ideais republicanos de Florença, completou o rei, pensando alto.
5º) Os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio.
O rei começou a sentir tonturas, suava frio, dificuldades para respirar. Lembrou-se da fala da feiticeira, do homem a quem mandou retirar tudo – um grande erro para um príncipe à Machiavelli. Observou que sua língua estava dormente – o veneno tomou-lhe a corrente sanguínea.
Ao chão, os dois príncipes.
07/02/2010
Para Beatriz de Basto Teixeira


Este conto faz parte do Livro "Contos que Machado de Assis e Jorge Luis Borges Elogiaram", de Raphael Reis, a ser lançado no segundo semestre de 2011, pela Editora Scortecci.
Raphael Reis é especialista em Políticas Públias e Graduado em História, ambas as formações pela UFJF. É membro do Grupo Prazer da Leitura e Editor da Revista Encontro Literário.






[1] Este conto recebeu Menção Honrosa da Academia de Letras, Artes e Músicas de Ituiutaba.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A MÉTRICA DO CORDEL (PARTE 3 - FINAL)

Parte 1

Continuação,

O Martelo agalopado, estrofe dez versos de dez sílabas, é uma das modalidades mais antigas na literatura de cordel. Criada pelo professor Jaime Pedro Martelo (1665 - 1727), as martelianas não tinham, como o nosso martelo agalopado, compromisso com o número de versos para a composição das estrofes. Alongava-se com rimas pares, até completar o sentido desejado. Como exem plo, vejamos estes alexandrinos

"Visitando Deus a Adão no Paraíso
achou-o triste por viver no abandono,
fê-lo dormir logo um pesado sono
e lhe arrancou uma costela, de improviso
estando fresca ficou Deus indeciso
e a pôs ao Sol para secar um momento
mas por causa, talvez dum esquecimento
chegou um cachorro e a carregou,
nessa hora furioso Deus ficou
com a grande ousadia do animal
que lhe furtara o bom material
feito para a construção da mulher,
estou certo, acredite quem quiser
eu não sou mentiroso nem vilão,
nessa hora correu Deus atrás do cão
e não podendo alcançar-lhe e dá-lhe cabo
cortou-lhe simplesmente o meio rabo
e enquanto Adão estava na trevas
Deus pegou o rabo do cão e fez a Eva."

Com tamanha irresponsabilidade, totalmente inaceitável na literatura de cordel, o estilo mergulhou, desde o desaparecimento do professor Jaime Pedro Martelo em 1727, em completo esquecimento, até que em 1898, José Galdino da Silva Duda dava à luz feição definitiva ao nosso atual martelo agalopado, tão querido quanto lindo. Pedro Bandeira não nos deixa mentir:

Admiro demais o ser humano
que é gerado num ventre feminino
envolvido nas dobras do destino
e calibrado nas leis do Soberano
quando faltam três meses para um ano
a mãe pega a sentir uma moleza
entre gritos lamúrias e esperteza
nasce o homem e aos poucos vai crescendo
e quando aprende a falar já é dizendo:
quanto é grande o poder da Natureza.

Há, também, o martelo de seis versos, como sempre, refinado, conforme veremos nesta estrofe:

Tenho agora um martelo de dez quinas
fabricado por mãos misteriosas
enfeitado de pedras cristalinas
das mais raras, bastante preciosas,
foi achado nas águas saturninas
pelas musas do céu, filhas ditosas.

Com versos de onze sílabas, portanto mais longos do que os de martelo agalopado, são os de galope à beira mar, como estes da autoria de Joaquim Filho:

Falei do sopapo das águas barrentas
de uma cigana de corpo bem feito
da Lua, bonita brilhando no leito
da escuridão das nuvens cinzentas
do eco do grande furor das tormentas
da água da chuva que vem pra molhar
do baile das ondas, que lindo bailar
da areia branca, da cor de cambraia
da bela paisagem na beira da praia
assim é galope na beira do mar.

Logicamente que há o galope alagoano, à feição de martelo agalopado, com dez versos de dez sílabas cuja diferença única é a obrigatoriedade do mote: "Nos dez pés de galope alagoano".

Outra interessante modalidade é a Meia Quadra ou versos de quinze sílabas. Não sabemos porque se convencionou chamar de meia quadra, quando poderia, muito bem, se chamar de quadra e meia ou até de quadra dupla. As rimas são emparelhadas e os versos, assim compostos:

Quando eu disser dado é dedo você diga dedo é dado
Quando eu disser gado é boi você diga boi é gado
Quando eu disser lado é banda você diga banda é lado
Quando eu disser pão é massa você diga massa é pão

Quando eu disser não é sim você diga sim é não
Quando eu disser veia é sangue você diga sangue é veia
Quando eu disser meia quadra você diga quadra e meia
Quando eu disser quadra e meia você diga meio quadrão.

A classificação da literatura de cordel há sido objeto da preocupação dos chamados iniciados, pesquisadores e estudiosos. As classificações mais conhecidas são a francesa de Robert Mandrou, a espanhola de Julio Caro Baroja, as brasileiras de Ariano Suassuna, Cavalcanti Proença, Orígenes Lessa, Roberto Câmara Benjamin e Carlos Alberto Azevedo. Mas a classificação autenticamente popular nasceu da boca dos próprios poetas.

No limiar do presente século, quando já brilhava intensamente à luz de Leandro Gomes de Barros, fluía abundante o estro de Silvino Pirauá e jorrava preciosa a veia poética de José Galdino da Silva Duda. Esses enviados especiais passaram a dominar com facilidade a rima escorregadia, amoldando, também, no corpo da estrofe o verso rebelde. Era o início de uma literatura tipicamente nordestina e por extensão, brasileira, não havendo mais, nos nossos dias, qualquer vestígio da herança peninsular.

Atualmente a literatura de cordel é escrita em composições que vão desde os versos de quatro ou cinco sílabas ao grande alexandrino. Até mes mo os princípios conservadores defendidos pelos nossos autores ortodoxos referem-se a uma tradição brasileira e não portuguesa ou espanhola. Os textos dos autores contemporâneos, apresentam um cuidado especial com a uniformização ortográfica, com o primor das rimas, com a beleza rítmica e com a preciosidade sonora.

Fim.


A Métrica do Cordel apresentada em três partes em material reproduzido da ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Buenos Aires homenageia Jorge Luis Borges: 25 anos

Buenos Aires homenageou Jorge Luis Borges nesta terça-feira com a leitura de poemas e a interpretação de milongas do escritor argentino no dia em que se completam 25 anos de sua morte em Genebra, aos 86 anos.
O ato organizado pela Prefeitura da capital argentina foi a única grande homenagem realizada no país para Borges, cujo legado literário ocupou nesta terça-feira várias páginas dos principais jornais portenhos.
Na praça San Martín, no centro de Buenos Aires, atores e apresentadores leram vários poemas de Borges, enquanto o duo musical Baraj-Barrueco interpretou milongas escritas pelo autor de "O Aleph".
"Borges e sua obra estão indissoluvelmente ligados à nossa identidade portenha e não podíamos deixar de resgatar hoje parte de seu legado", ressaltou o ministro (secretário) da Cultura e Turismo da capital argentina, Hernán Lombardi.
A homenagem aconteceu junto à "Torre de Babel" de livros que no início de maio foi erguida na praça pela artista plástica Marta Minujín, em ocasião da nomeação de Buenos Aires como "Capital Mundial do Livro" 2011, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
"Quando era muito menina fui visitar Borges na Biblioteca Nacional, porque para mim já era um ídolo. Depois criei a 'universidade do fracasso' - porque eu acho que o sucesso e o fracasso são a mesma coisa - e procurei-o de novo para que falasse sobre isso, e ele me disse: 'O fracasso não existe!'", relatou Minujín.
A artista pop disse que sempre teve com Borges "uma coincidência mental".
"O fato de nós dois sermos portenhos. Eu com a Torre de Babel e ele com seu conto 'A Biblioteca de Babel'. Além disso, ele analisava o tempo e eu faço minhas esculturas sobre o tempo relativo, então me parece que tenho muito a ver com ele", avaliou.
"Esta Torre de Babel não existe em nenhum lugar do mundo. Borges também não", acrescentou Minujín na homenagem

Fonte: Agencia EFE - 14/06/2011
Trecho do conto Aleph:

[...] O diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço cósmico estava aí, sem diminuição de tamanho. Cada coisa (o cristal do espelho, digamos) era infinitas coisas, porque eu a via claramente de todos os pontos do universo. Vi o populoso mar, vi a aurora e a tarde, vi as multidões da América, vi uma prateada teia de aranha no centro de uma negra pirâmide, vi um labirinto roto (era Londres), vi intermináveis olhos próximos perscrutando-me como num espelho, vi todos os espelhos do planeta e nenhum me refletiu, vi num pátio da rua Soler as mesmas lajotas que, há trinta anos, vi no vestíbulo de uma casa em Fray Bentos, vi cachos de uva, neve, tabaco, veios de metal, vapor de água, vi convexos desertos equatoriais e cada um de seus grãos de areia, vi em Inverness uma mulher que não esquecerei, vi a violenta cabeleira, o altivo corpo, vi um câncer no peito, vi um círculo de terra seca numa calçada onde antes existira uma árvore, vi uma chácara de Adrogué, um exemplar da primeira versão inglesa de Plínio, a de Philemon Holland, vi, ao mesmo tempo, cada letra de cada página (em pequeno, eu costumava maravilhar-me com o fato de que as letras de um livro fechado não se misturassem e se perdessem no decorrer da noite), vi a noite e o dia contemporâneo, vi um poente em Querétaro que parecia refletir a cor de uma rosa em Bengala, vi meu dormitório sem ninguém, vi num gabinete de Alkmaar um globo terrestre entre dois espelhos que o multiplicam indefinidamente, vi cavalos de crinas redemoinhadas numa praia do mar Cáspio, na aurora, vi a delicada ossatura de uma mão, vi os sobreviventes de uma batalha enviando cartões-postais, vi numa vitrina de Mirzapur um baralho espanhol, vi as sombras oblíquas de algumas samambaias no chão de uma estufa, vi tigres, êmbolos, bisões, marulhos e exércitos, vi todas as formigas que existem na terra, vi um astrolábio persa, vi numa gaveta da escrivaninha (e a letra me fez tremer) cartas obscenas, inacreditáveis, precisas, que Beatriz dirigira a Carlos Argentino, vi um adorado monumento em La Chacarita, vi a relíquia atroz do que deliciosamente fora Beatriz Viterbo, vi a circulação de meu escuro sangue, vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph, e no Aleph a terra, vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto e senti vertigem e chorei, porque meus olhos haviam visto esse objeto secreto e conjetura) cujo nome usurpam os homens, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo" [...].

V Colóquio Nacional de Leitura e Cognição

O Programa de Pós-Graduação em Letras, juntamente com os Departamentos de Letras e Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC realizarão, de 17 e 26 de agosto de 2011, em Santa Cruz do Sul - RS, o "V Colóquio Nacional Leitura e Cognição - Olhares do contemporâneo sobre os textos: hermenêutica, cognição/conhecimento, comunicação e XII Semana Acadêmica de Letras". O evento tem por objetivo aprofundar estudos sobre a leitura a partir de uma perspectiva inter/transdisciplinar, que contemple as áreas da cognição/conhecimento, hermenêutica e das teorias sobre a comunicação humana.

Cronograma para submissão de trabalhos:

Inscrição e submissão: até 15 de julho de 2011

Comunicações: estão agendadas para quarta-feira, dia 17 de agosto de 2011, no turno da tarde. A comunicação terá duração de 15 minutos por trabalho inscrito e 5 minutos para debate. Será disponibilizado datashow.

Publicação do Trabalho Completo: os trabalhos selecionados poderão ser encaminhados para o email mestradoletras@unisc.br, até dia 30 de setembro de 2011. Os trabalhos encaminhados serão selecionados para compor a Edição Especial V Colóquio Nacional Leitura e Cognição da revista Signo (Qualis B2 - http://online.unisc.br/seer/index.php/signo).

Os trabalhos devem estar vinculados às seguintes temáticas:

· Leitura e interdisciplinaridade

· Leitura e processos cognitivos

· Texto e hermenêutica

· Compreensão leitora

· Narrativas literárias e comunicacionais

Presenças confirmadas:

Prof.ª Dr. Maria Lucia Santaella Braga (PUC/SP), Prof.ª Dr. Vera Lúcia de Oliveira (Università degli Studi di Perugia), Prof. Dr. Luis Motta (UnB), Prof. Dr. Gustavo Bernardo Galvão Krause (UERJ)

Inscrições com submissão de trabalhos (resumo) R$ 50,00
prazo:
até 15 de julho de 2011.

Inscrições sem submissão de trabalhos (resumo) R$ 30,00
prazo:

a
15 de agosto 2011.

Mais informações: site do evento: http://www.unisc.br/eventos/2011/coloquio/index.html

Palestra com a Professora Drª. Fernanda Bernado: Cinema e Poesia

O Prof. Luiz Fernando Medeiros de Carvalho irá receber, em sua aula neste sábado, dia 18/06, no Mestrado em Letras do CES/JF, a Professora Doutora Fernanda Bernardo, de Portugal, que dará a palestra "Cinema e Poesia", neste sábado, 10h às 12h, na sala 401, do Campus Verbum Divinum.
 
Fernanda Bernardo é professora associada do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra, e é conhecida por ser uma das mais importantes tradutoras da obra do filósofo francês Jacques Derrida para a língua portuguesa. É coordenadora científica do "Projecto de investigação trans-disciplinar (FCT): «Jacques Derrida – Língua e Soberania»".
Está no Brasil para participar do "I Colóquio Internacional Desconstrução, Linguagem e Alteridade: heranças de Jacques Derrida", na UFRJ.
 
Entre suas publicações, estão o livro Derrida à Coimbra – Derrida em Coimbra (Viseu, 2005) e as traduções de J. Derrida, Aprender finalmente a viver (Coimbra, 2005) e Carneiros. O diálogo ininterrupto: entre dois infinitos, o poema, (Viseu, 2006).
 
A palestra da Professora Fernanda é direcionada aos mestrandos em Letras do CES/JF e demais interessados.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A MÉTRICA DO CORDEL (PARTE 2)

Continuação,

Uma prova de que as setilhas são uma modalidade relativamente recente está na ausência quase completa delas na grande produção de Leandro Gomes de Barros. Sim, porque pela beleza rítmica que essas estrofes oferecem ao declamador, os grandes poetas não conseguiram fugir à tentação de produzi-las. Para alguns, as setilhas, estrofes de sete versos de sete sílabas, foram criadas por José Galdino da Silva Duda, 1866 - 1931. A verdade é que o autor mais rico nessas composições, talvez por se tratar do maior humorista da literatura, de cordel, foi José Pacheco da Rocha, 1890 - 1954. No poema A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO, do inventivo poeta pernambucano, encontram estas estrofes:

Vamos tratar da chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu.
- Quem é você, Cavalheiro -
- Moleque, sou cangaceiro -
Lampião lhe respondeu.

- Não senhor - Satanás, disse
vá dizer que vá embora
só me chega gente ruim
eu ando muito caipora
e já estou com vontade
de mandar mais da metade
dos que tem aqui pra fora.

Moleque não, sou vigia
e não sou o seu parceiro
e você aqui não entra
sem dizer quem é primeiro
- Moleque, abra o portão
saiba que sou Lampião
assombro do mundo inteiro.

Excelente para ser cantada nas reuniões festivas ou nas feiras, esta modalidade é, ainda hoje, muito usada pelos cordelistas. Esta modalidade é, também, usada em vários estilos de mourão, que pode ser cantado em seis, sete, oito e dez versos de sete sílabas. Exemplos:

Cantador A
- Eu sou maior do que Deus
maior do que Deus eu sou

Cantador B
- Você diz que não se engana
mas agora se enganou

Cantador A
- Eu não estou enganado
eu sou maior no pecado
porque Deus nunca pecou.

Ou com todos os versos rimados, a exemplo das sextilhas explicadas antes:

Cantador A -
Este verso não é seu
você tomou emprestado

Cantador B -
Não reclame o verso meu
que é certo e metrificado

Cantador A -
Esse verso é de Noberto
Se fosse seu estava certo
como não é está errado.

Os oito pés de quadrão, ou simplesmente oitavas, são estrofes de oito versos de sete sílabas. A diferença dessas estrofes de cunho popular para as de linha clássica é apenas a disposição das rimas. Vejam como o primeiro e o quinto versos desta oitava de Casimiro de Abreu (1837 - 1860) são órfãos:

Como são belos os dias
Do despontar da existência
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar - é lago sereno,
O Céu - Um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida um hino de amor.

Na estrofe popular aparecem os primeiros três versos rimados entre si; também o quinto, o sexto e o sétimo, e finalmente o quarto com o último, não havendo, portanto um único verso órfão. Assim:

Diga Deus Onipotente
Se é você, realmente
Que autoriza, que consente
No meu sertão tanta dor
Se o povo imerso no lodo
apregoa com denodo
que seu coração é todo
De luz, de paz e de amor.

As décimas, dez versos de sete sílabas, são, desde sua criação no limiar do nosso século, as mais usadas pelos poetas de bancada e pelos repentistas. Excelentes para glosar motes, esta modalidade só perde para as sextilhas, especialmente escolhidas para narrativas de longo fôlego. Ainda assim, entre muitos exemplos, as décimas foram escolhidas por Leandro Gomes de Barros para compor o longo poema épico de cavalaria A BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAZ, baseado na obra do imperador francês Carlos Magno:



Eram doze cavalheiros
Homens muito valorosos
Destemidos, corajosos
Entre todos os Guerreiros
Como bem fosse Oliveiros
um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos os infiéis
Eram uns leões cruéis
Os doze pares de França.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

II Encontro Nacional do Grupo de Trabalho Teoria do Texto Poético/ANPOLL

II Encontro Nacional do
Grupo de Trabalho Teoria do Texto Poético/ANPOLL

Cartografias da poesia moderna e contemporânea

Data
13 e 14 de outubro de 2011
Local
Cidade de Goiás,
nas dependências da Unidade Cora Coralina da UEG
e do Museu Casa de Cora Coralina
Inscrições 
15 de julho a 31 de agosto de 2011
Página do GT Teoria do Texto Poético
Como ouvinte ou com apresentação de trabalho,
a participação é aberta a pesquisadores
em nível de graduação, mestrado e doutorado
Realização 
FL/UFG em parceria com UNESP/Araraquara,
UnB, UEG, PUC/GO e
Museu Casa de Cora Coralina

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Caps/HU realiza campanha para montar biblioteca para pacientes

A leitura é uma importante ferramenta de comunicação, aprendizado e criatividade. Pensando nisso, o Centro de Apoio Psicossocial (Caps) do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) está realizando a campanha do livro, uma iniciativa que visa a criação de uma biblioteca para os pacientes.
Segundo a residente de Psicologia Carla Cristina do Vale, a biblioteca seria mais uma opção para diversificar as atividades do Centro, além de proporcionar o acesso à cultura. “Aqui nós temos muitos pacientes alfabetizados, por isso, a necessidade de termos um espaço para a leitura. Futuramente, pensamos em encaixar alguma atividade de leitura na grade do Caps, mas
agora o projeto é abrir essa biblioteca para incentivar a leitura entre os pacientes. Aqui eles poderão pegar um livro e levar para casa.”
Para a realização dessa campanha o Caps conta com o apoio do Núcleo de Humanização. “Estamos oferecendo suporte ao Caps, colhendo algumas doações e divulgando a campanha aos amigos e colegas de trabalho”, ressalta a coordenadora Rejane Guingo.
As doações começaram a ser recebidas no mês passado com o apoio de amigos, estagiários do Caps, Editora UFJF, Editora Vozes e Editora Leitura. Ao todo foram recebidos 94 livros. “Todos os tipos de livros são bem-vindos, dos contos infantis ao ‘Código da Vinci’, nós temos pacientes de todos os níveis” afirma Carla. As doações podem ser feitas no Caps/HU, que fica localizado na Rua Melo Franco 11, no Bairro São Mateus.
Outras informações: (32) 4009-5393 (Assessoria do HU)
www.ufjf.br/hu
www.twitter.com/huufjf_noticia

Fonte: Disponível em [http://www.ufjf.br/dircom/2011/06/07/capshu-realiza-campanha-para-montar-biblioteca-para-pacientes/]. Acesso: 08/06/2011.

domingo, 5 de junho de 2011

A MÉTRICA DO CORDEL (PARTE 1)

A evolução da literatura de cordel no Brasil não ocorreu de maneira harmoniosa. A oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em busca de forma estrutural. Os primeiros repentistas não tinham qualquer compromisso com a métrica e muito menos com o número de versos para compor as estrofes. Alguns versos alongavam-se inaceitavelmente, outros, demasiado breves. Todavia, o interlocutor respondia rimando a última palavra do seu verso com a última do parceiro, mais ou menos assim:


Repentista A - O cantor que pegá-lo de revés
Com o talento que tenho no meu braço...
Repentista B - Dou-lhe tanto que deixo num bagaço
Só de murro, de soco e ponta-pés.

A parcela ou verso de quatro sílabas é o mais curto conhecido na literatura de cordel. A própria palavra não pode ser longa do contrário ela sozinha ultrapassaria os limites da métrica e o verso sairia de pé quebrado. A literatura de cordel por ser lida e ou cantada é muito exigente com questão da métrica. Vejamos uma estrofe de versos de quatro sílabas, ou parcela.


Eu sou judeu
para o duelo
cantar martelo
queria eu
o pau bateu
subiu poeira
aqui na feira
não fica gente
queimo a semente
da bananeira.

Quando os repentistas cantavam parcela (sim, cantavam, porque esta modalidade caiu em desuso), os versos brotavam numa seqüência alucinante, cada um querendo confundir mais rapida mente o oponente. Esta modalidade é pre-galdiniana, não se conhecendo seu autor.

Já a parcela de cinco sílabas é mais recente, e não há registro de sua presença antes de Firmino Teixeira do Amaral, cunhado de Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo. A parcela de cinco sílabas era cantada também em ritmo acelerado, exigindo do repentista, grande rapidez de raciocínio. Na peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, da autoria de Firmino Teixeira do Amaral, encontramos estas estrofes:

Pretinho:
no sertão eu peguei
um cego malcriado
danei-lhe o machado
caiu, eu sangrei
o couro tirei
em regra de escala
espichei numa sala
puxei para um beco
depois dele seco
fiz dele uma mala

Cego:
Negro, és monturo
Molambo rasgado
Cachimbo apagado
Recanto de muro
Negro sem futuro
Perna de tição
Boca de porão
Beiço de gamela
Venta de moela
Moleque ladrão

Estas modalidades, entretanto, não foram as primeiras na literatura de cordel. Ao contrário, ela vieram quase um século depois das primeiras manifestações mais rudimentares que permitiram, inicialmente, as estrofes de quatro versos de sete sílabas.

O Mergulhão quando canta
Incha a veia do pescoço
Parece um cachorro velho
Quando está roendo osso.

Não tenho medo do homem
Nem do ronco que ele tem
Um besouro também ronca
Vou olhar não é ninguém

A evolução desta modalidade se deu naturalmente. Vejamos a última estrofe de quatro versos acrescida de mais dois, formando a nossa atual e definitiva sextilha:

Meu avô tinha um ditado
meu pai dizia também:
não tenho medo do homem
nem do ronco que ele tem
um besouro também ronca
vou olhar não é ninguém.

Agora, de posse da técnica de fazer sextilhas, e uma vez consagradas pelos autores, esta modalidade passou a ser a mais indicada para os longos poemas romanceados, principalmente a do exemplo acima, com o segundo, o quarto e o sexto versos rimando entre si, deixando órfãos o primeiro, terceiro e quinto versos. É a modalidade mais rica, obrigatória no início de qualquer combate poético, nas longas narrativas e nos folhetos de época. Também muito usadas nas sátiras políticas e sociais. É uma modalidade que apresenta nada menos de cinco estilos: aberto, fechado, solto, corrido e desencontrado. Vamos, pois, aos cinco exemplos:

Aberto:
Felicidade, és um sol
dourando a manhã da vida,
és como um pingo de orvalho
molhando a flor ressequida
és a esperança fagueira
da mocidade florida.

Fechado:
Da inspiração mais pura,
no mais luminoso dia,
porque cordel é cultura
nasceu nossa Academia
o céu da literatura,
a casa da poesia.

Solto:
Não sou rico nem sou pobre
não sou velho nem sou moço
não sou ouro nem sou cobre
sou feito de carne e osso
sou ligeiro como o gato
corro mais do que o vento.

Corrido:
Sou poeta repentista
Foi Deus quem me fez artista
Ninguém toma o meu fadário
O meu valor é antigo
Morrendo eu levo comigo
E ninguém faz inventário

Desencontrado:
Meu pai foi homem de bem
Honesto e trabalhador
Nunca negou um favor
Ao semelhante, também
Nunca falou de ninguém
Era um homem de valor.


A Métrica do Cordel será apresentada em três partes e o mesmo material foi retirado da ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel.